Imagem post

Especialistas preveem “enxurrada” de ações trabalhistas com NR-01

Especialistas apontam que a NR-01 deve provocar aumento de afastamentos, ações judiciais e custos, com impacto direto no bolso do consumidor

Com a nova Norma Regulamentadora 01 (NR-01), especialistas preveem uma “enxurrada” de ações trabalhistas devido à obrigatoriedade da gestão de riscos psicossociais.

Empresas que não se adequarem às novas exigências, como a inclusão de fatores de risco psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), podem enfrentar processos judiciais e multas.

A entrada em vigor das novas diretrizes da NR-01 tende a aumentar a incidência de autuações por parte do Ministério do Trabalho e Emprego, especialmente em empresas que não implementarem medidas concretas para prevenção de riscos psicossociais, destacou a advogada trabalhista Luíza Simões.

“Em relação ao Judiciário, é bastante provável que haja um crescimento nos pedidos de indenização por dano moral decorrente do descumprimento das normas regulamentadoras”, disse.

Ela explicou que quando plenamente vigente, a norma permitirá que os auditores fiscais do trabalho apliquem penalidades em caso de descumprimento, o que representa uma verdadeira mudança de paradigma na gestão de saúde e segurança do trabalho.

“As empresas temem não apenas o impacto financeiro e estrutural das adequações, mas também a insegurança jurídica quanto aos limites da responsabilização e à forma como os órgãos fiscalizadores interpretarão e aplicarão a nova norma”, pontuou.

Com a ampliação da responsabilização empresarial sobre riscos ocupacionais, se espera o aumento de ações trabalhistas com pedidos de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidentes ou doenças ocupacionais, segundo a advogada trabalhista Julia Loureiro.

“Isso é uma preocupação concreta. Os principais temores das empresas são possíveis multas e autuações, especialmente após o prazo estabelecido, já que vão ter que comprovar que cumpriram efetivamente as normas”, contou.

O advogado trabalhista Josmar Pagotto afirmou que alguns pontos abordados na NR-01 já podem ser encontrados em outras NRs, mas a mudança apresenta obrigatoriedades como de mapear fatores de risco e isso levará a um aumento de ações trabalhistas.

“A Justiça do Trabalho e o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) já investigam os casos, mas com os trabalhadores tendo maior conhecimento e buscando mais diagnósticos, haverá aumento de ações”, detalhou.

Aumento em preços com repasse aos consumidores

Produtos e serviços podem ter seus preços aumentados a partir da mudança da Norma Regulamentadora 01 (NR-01). As empresas terão custos com novos ambientes, por exemplo, e principalmente com a contratação de mais profissionais, segundo o economista Ricardo Paixão.

Qualquer mudança organizacional passa pelo caráter financeiro e muitas empresas vão precisar de algumas contratações, destacou o economista.

“Um dos pontos para poder cumprir essa nova recomendação é a redução da jornada de trabalho e a distribuição de tarefas. Algumas empresas com certeza vão precisar diluir a carga de trabalho e com isso vão ter um aumento na folha de pagamento”.

Outro ponto também é a adoção de serviços especializados de saúde ocupacional. “Vão ter a obrigatoriedade do acompanhamento da saúde mental dos trabalhadores, exigindo a contratação de psicólogos do trabalho e psiquiatras”, disse.

As empresas grandes podem ter uma flexibilidade de repassar parte desses custos operacionais, mas as menores vão ter que repassar, explicou Ricardo.

“Muitas delas vão ter que repassar a sua integralidade do custo ao preço final do produto ou serviço e isso vai impactar nos preços médios que são medidos pela inflação. Mas, por outro lado, tendo mais trabalhadores, pode aumentar a produtividade daquela empresa”, afirmou.

Afastamentos aumentam

A reformulação da NR-01 surge em meio a um cenário preocupante: entre 2014 e 2024, os afastamentos por saúde mental cresceram significativamente.

Em 2024, o Ministério da Previdência Social registrou mais de 472 mil licenças por ansiedade, burnout e depressão — alta de 68% em relação ao ano anterior.

O benefício é concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) quando o trabalhador precisa se afastar por mais de 15 dias. Para isso, é preciso passar por uma perícia médica, na qual é declarada qual doença justifica a licença.

Já no Espírito Santo teve 12.907 afastamentos do trabalho no ano passado, por saúde metal, depressão e ansiedade, segundo dados do Ministério da Previdência Social. Foram 8.119 afastamentos por saúde mental, 2.450 por ansiedade e 2.338 por depressão, conforme os dados.

Análise: “Sinônimo de bem-estar emocional”

“A prorrogação da fiscalização da nova NR-01 para o ano que vem deu um respiro, mas não pode virar acomodação. As mudanças exigem atenção, principalmente por parte da área de Gestão de Pessoas. A norma amplia a definição de riscos ocupacionais, incluindo fatores psicossociais.

Para atender a essa exigência, a Gestão de Pessoas terá papel estratégico: será preciso capacitar líderes para uma gestão mais humana, promover ações de saúde mental e criar políticas claras de prevenção. Isso exige tempo, investimento, mudança cultural e engajamento da alta liderança.

Mas, se bem conduzido, o processo fortalece o ambiente de trabalho, melhora a produtividade e reduz passivos trabalhistas. A NR-01 marca uma virada: segurança agora também é sinônimo de bem-estar emocional. Esse é um passo importante para tornar os ambientes corporativos mais saudáveis, produtivos e humanos”.

 

FONTE: TRIBUNA ONLINE

Compartilhar
0 0 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários